Reportagem publicada pelo jornal Diário da Manhã — 8 de junho de 2016

Chamados de ‘carros verdes’, os novos modelos podem reduzir poluição e custos

Beto Silva

Quem já visitou a Europa costuma ver nas calçadas e ruas alguns carros ‘ligados’ em pequenas estruturas elétricas. Plugados nas tomadas, os veículos estão, na verdade, recarregando suas baterias, para seguir em movimento.

O Brasil ainda está longe dessa realidade. Mas é por isso mesmo que a Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado realizou audiência pública para debater o Projeto de Lei da Câmara nº 65, de 2014.

A proposta institui a obrigatoriedade de instalação de pontos de recarga para veículos elétricosem vias públicas e em ambientes residenciais e comerciais. O senador Jorge Viana, que relata a matéria no Senado, acredita que o tema é pertinente, pois o Brasil vive um momento de grande transformação tecnológica.

O senador goiano Wilder Morais é favorável à iniciativa de implantação de pontos de recarga. Mas como apenas um percentual muito pequeno da população possui condições de adquirir umcarro elétrico na atualidade, acredita, é ideal que os investimentos sejam realizados pela iniciativa privada.

A expectativa é que o carro elétrico se transforme em produto comum nas próximas duas décadas. Por isso o Brasil deve investir no modelo, caso não deseje ficar desatualizado frete os demais países.

Wilder diz que o governo não tem condições na atualidade para realizar grandes investimentos no setor. “Mas é profundamente injusto privar o mercado de desenvolver pesquisas e veículos neste segmento”, diz.

O senador diz que futuramente esta modalidade de veículo será uma alternativa sustentável e atraente para substituir o uso de veículos baseados em derivados petróleo. “Trata-se de medida altamente benéfica tanto do ponto de vista financeiro quanto do ecológico. Essa instalação vai gerar incentivo à indústria e movimentará a economia”, analisa o senador de Goiás.

De acordo com o Denatran, o número de carros elétricos no país dobrou entre 2013 a 2015, quando alcançou a marca de 4,7 mil unidades. Wilder Morais diz que o Japão é um exemplo para o Brasil seguir: o país oriental conta com extensão territorial 22,5 vezes menor do que o Brasil e possui mais pontos de recarga do que postos de gasolina.

O Brasil tem apenas 50 postos de recarga, o que demonstra ainda um amplo campo de crescimento. Já existe em Goiânia, por exemplo, um empreendimento imobiliário com a previsão de instalação dos pontos para recarga de carros elétricos, as chamadas tomadas green fuel.

GASES POLUENTES

A tendência é de que os carros elétricos dominem o mercado até 2035. Um dos motivos é a obrigação de que o Brasil reduza as emissões de gases de efeito estufa. Uma outra vantagem dos modelos elétricos diz respeito ao baixo custo de utilização e de manutenção.

Um dos motivos para que ocorra maior investimento neste segmento automobilístico é a proposta de isenção de impostos de importação. Já o Congresso Nacional avalia projeto de lei que concede isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) por 10 anos para veículos movidos a energia elétrica produzidos no Brasil. Na atualidade, o IPI chega a uma alíquota de 55%.

A expectativa é que o país tenha entre 30 a 40 mil unidades de veículos elétricos e híbridos até 2020. “Para que isso aconteça é necessário debatermos o assunto, investir tempo nesta reflexão. Afinal, é um investimento para termos um país sustentável”, analisa Wilder.

VIAGENS CURTAS

Um carro como Kia Soul tem autonomia de 200 Km. Um veículos desta natureza é ideal para viagens curtas, como as que ocorrem no Entorno do Distrito Federal.

De acordo com o senador Wilder Morais, o grande fluxo de carros e a mobilidade das cidades próximas exigirá adaptações. Além disso, os carros elétricos apresentam baixa autonomia – daí serem excelentes para viagens de curta duração. “No caso da região metropolitana de Brasília, um carro que faz 400 quilômetros terá capacidade de sobra para cruzar as rodovias, chegar na capital e voltar. Esse modelo e ideal para o morador da região”, diz.

Conforme o empresário Josué Gonçalves, já existe ponto de recarga na Capital Federal para quem se aventurar do Entorno do DF. A AZ Energy oferece estação de carregamento de veículos na sede da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), em Brasília. Empresa brasileira especializada em inteligência energética, ela pretende ampliar o número de postos na região.