Artigo publicado pelo jornal Diário da Manhã — 13 de junho de 2015
Wilder Morais
Apesar de estar num partido de oposição ao governo federal, no caso o DEM, eu não torço para que o pior aconteça na administração da presidente Dilma Rousseff. Dentro do perfil político que construí, esse tipo de postura não cabe, pois aí eu estaria torcendo contra o desenvolvimento do Brasil. As críticas que tenho feito à presidente não são de viés politiqueiro. Elas ocorrem, vale dizer, justamente por culpa do governo, que tem falado muito em desenvolvimento, mas suas ações administrativas têm tomado um rumo contrário ao que fala e assim fazendo com que o país encolha economicamente.
Errar é humano. Só que a presidente tem errado muito e, na sua gestão, anda usando mais a borracha que o lápis. Êxito de gestão mesmo tem sido insignificante. Sua baixa popularidade, ela sabe bem disso, é reflexo da desaceleração econômica vivida pelo país, a qual é resultante de falta de planejamento do governo, que age como folha seca arrastada ao prazer do vento. Em síntese: é um governo sem foco, que não elege prioridades.
Foram belas as palavras que a presidente usou em seu discurso na terça-feira, 9, para divulgar o novo plano de concessões, cujo valor é de R$ 198,4 bilhões e será voltado à melhoria da infraestrutura logística do país. Realmente “os grandes números e projetos” por ela anunciados são “ambiciosos”. Mas, em seu discurso, a presidente Dilma também se mostrou óbvia ao dizer que “desenvolvimento significa investimento, emprego, renda e qualidade de vida, capacidade de crescer, trabalhar e produzir”.
Sinto um quê do personagem Rolando Lero, da “Escolinha do Professor Raimundo”, na fala da presidente. Afinal o que o Brasil está necessitando urgentemente não é da explicação da palavra “desenvolvimento”, mas sim da resposta prática da presidente em fazer tal palavra existir. Os sucessivos tropeços administrativos da presidente obscurece suas palavras otimistas, apontando que o novo plano de concessões vai iniciar uma “progressiva virada de página, gradual e realista”.
Quando a presidente alfineta os críticos de sua administração, dizendo que seu “governo não é de quatro meses, mas de quatro anos”, ela se esquece de que a gestão passada foi sua também. Em 2012, seu governo divulgou com estardalhaço o Programa de Investimentos de Logística, que teve alguns frutos nas concessões de aeroportos e rodovias, vale reconhecer. Só que os portos e ferrovias não tiveram êxito. Fato resultante das condições impostas pelo
governo. Nos 11 mil quilômetros de ferrovias oferecidos no pacote, não houve interesse por parte do mercado (e com razão), pois, no sistema proposto, caberia apenas à estatal Valec comprar e revender as cargas.
Tomara que agora esteja mesmo surgindo uma luz no fim do túnel, de modo a mostrar a presidente Dilma que, no contexto econômico mundial em que estamos vivendo, a participação do Estado na economia é realmente mais produtiva no papel de regulador. Função que exige eficiência do chefe maior da nação, pois, do contrário, suas ações, em vez de atenuarem as crises, podem aumentá-las.
Tomara mesmo que desta vez o propósito do governo seja diferente.E tempo para legitimar o “novo objetivo” há, pois, conforme salientou a presidente, seu segundo governo ainda está com poucos meses de vida. Vai bastar apenas que ela eleja prioridades. Falar em ferrovia transoceânica por agora, que ligará ao Brasil ao Peru e unirá os oceanos Atlântico e Pacífico por trilhos, sendo que nem a Ferrovia Norte-Sul, iniciada em 1987, foi concluída, é simplesmente fazer barulho midiático. Há um ditado popular muito acertado que deveria chegar ao conhecimento do governo: “Quem quer fazer tudo não faz nada”.
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