Reportagem publicada pelo jornal Diário da Manhã — 29 de agosto de 2016
Wandell Seixas
O meio empresarial de forma geral dá seu voto de confiança no governo interino de Michel Temer, embora os investidores aguardem pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, a ser decidida no decorrer da próxima semana. Inclusive, nos dias 4 e 5 de setembro ocorrerá, em Hanzhou, a Cúpula de Líderes do G20, da qual participarão os representantes das 20 principais economias do mundo. Segundo a assessoria de Temer, porém, a participação do presidente em exercício na cúpula depende da aprovação, pelo Senado, do impedimento de Dilma, atualmente afastada do cargo.
No último dia 11, Temer recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang. Na reunião, informou a assessoria da Presidência, ele aceitou um convite para se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, mas ponderou que o encontro só poderia ser confirmado também após o Senado decidir sobre o destino de Dilma. Na China há a possibilidade de negócios envolventes, com ênfase para a área de commodities agropecuárias e minerais.
Maior confiança
Os empresários brasileiros estão mais confiantes na economia brasileira. De acordo com recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a expectativa sobre a demanda chegou a 55 pontos em julho, maior valor dos últimos dois anos. Os indicadores do levantamento variam de zero a 100 pontos. Quando estão acima de 50, revelam perspectivas otimistas.
A pesquisa revela também que as indústrias estão demitindo menos. Apesar das melhoras, o desempenho industrial continua fraco e a produção caiu de junho para julho. O estudo mostra que, por causa da crise financeira no país, a disposição dos empresários para investir continua baixa.
O levantamento foi feito nos primeiros dez dias de agosto com mais de 2,5 mil empresas. Dessas, cerca de mil são pequenas, 900 são médias e 570 são de grande porte
Decepção com Temer
Hugo Goldfeld, presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), sempre bateu de frente contra o governo Dilma Rousseff. Chegou a trazer a Goiânia o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), militar da reserva e considerado radical de direita, para proferir palestra na sede da SGPA. Mas, mostra-se decepcionado, pelo menos até o momento, com as ações do presidente em exercício Michel Temer.
Considerado por não ter “papas na língua”, Hugo, um dos maiores empresários revendedores de veículos automotores da região Centro-Oeste e pecuarista no Mato Grosso, é taxativo ao Diário da Manhã. “Até agora não disse a que veio. Não fez nada para mudar,” diz. E acrescenta que o número de ministérios manteve-se praticamente o mesmo, “os aumentos salariais rolam solto num momento de dificuldade econômica para o Brasil”.
Clarismino Pereira Júnior, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), tem opinião diferente. Para ele, Temer exerce um mandato interino, pelo menos até a cassação definitiva do mandato de Dilma, decisão aguardada para a próxima semana. “Demonstrando serenidade e prudência optou por adotar medidas mais cautelosas, por enquanto”, ressalta o ex-presidente da ACGZ. Para ele, Michel Temer tem assegurado o apoio do Congresso Nacional, onde os parlamentares têm sido ouvidos pelo presidente interino. “Os indicadores econômicos já sinalizam de forma tênue mais positiva”, observa.
O presidente da Associação Goiana dos Municípios (AGM), Cleudes Baré, vê os municípios com “uma carência sem precedentes de dinheiro”. Com isso, setores básicos como da saúde, da educação, dos transportes públicos são afetados. “Os gargalos são desafios”, mas acredita que os avanços virão com o novo governo. Sua confiança reside mais no segmento do agronegócio com os produtores, apesar das dificuldades climáticas, oferecendo aos mercados de consumo safras agrícolas cada vez mais generosas.
Pedro Alves de Oliveira, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg, optou por falar depois do processo de impedimento em tramitação no Senado Federal. Sua posição, no entanto, é conhecida e de preocupação com a maré baixa nas empresas e o desemprego de 12 milhões de pessoas. O Custo Brasil tem sido uma de suas grandes preocupações como de resto de todo o Fórum Empresarial de Goiás.
O presidente da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, demonstra estar inteiramente à vontade com o governo de Temer. O líder classista rural observa que esteve, quinta-feira em Brasília, no lançamento do Agro Mais, programa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo ele, esse programa “veio para eliminar uma das maiores pragas que temos no agro: a burocracia”.
E acrescenta: “É uma maneira de continuar a demonstrar para o Brasil o belíssimo trabalho que o setor produtivo tem feito para segurar o país e um exemplo claro de que a união entre iniciativa pública e privada pode dar certo. A previsão é de alcançar 10% do mercado mundial e, em 120 dias, solucionar 90% dos gargalos do setor. Precisamos apoiar e fomentar nossas cadeias, que levam alimentos de qualidade às mesas de todo o mundo”.
Dez medidas para o crescimento
O presidente da República em exercício, Michel Temer, recebeu do presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins e diretores da instituição, o documento “Dez medidas para garantir o crescimento e fortalecimento da agropecuária brasileira”, contendo propostas para garantir o crescimento sustentado da atividade no país.
A CNA, conforme o documento entregue, entende como prioritário para fortalecer o segmento a ampliação do alcance da política agrícola para todos os produtores rurais, independente de seu porte. Espera, ainda, melhoria nas condições de acesso ao crédito rural e desburocratização dos instrumentos de política agrícola. Outro ponto considerado estratégico diz respeito à modernização das relações trabalhistas, com ênfase na reforma da Previdência Social, com adoção da idade mínima para a aposentadoria.
Plano Plurianual
Para o vice-presidente diretor da CNA e presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), José Mário Schreiner, a criação de um plano plurianual agropecuário é medida crucial para dar visão de longo prazo aos produtores, mesmo com eventuais ajustes, a cada ano. Dentro da porteira “o produtor rural brasileiro é um dos mais eficientes do mundo, mas da porteira para fora enfrenta enormes custos financeiros devido à precariedade das rodovias, ferrovias e portos do país”, assinalou. A CNA também espera medidas que garantam a segurança jurídica para o produtor definir seus investimentos.
Durante a audiência, a diretoria da Confederação manifestou preocupação com a medida do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de restabelecer a exigência de licença ambiental anual para os produtores rurais poderem plantar. “Era uma norma que estava suspensa e entrou em vigor novamente em recente ato do governo federal”, explicou Schreiner. A diretoria da CNA pediu ao presidente em exercício a revogação da medida. O assunto será tratado nos próximos dias com o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho.
Novos empregos
José Mário Schreiner citou os números de julho do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados nesta semana pelo Ministério do Trabalho. A agricultura foi o único setor da economia brasileira que gerou emprego em junho, mais de 38 mil novas vagas. No total, no mês passado, foram fechados mais de 91 mil postos de trabalho nas outras atividades econômicas. Para o vice-presidente da CNA, esse cenário mostra “a força do setor agropecuário, que vem sustentando fortes superávits comerciais, amenizando a crise econômica, mas o setor precisa de medidas pontuais que possam manter essa liderança”.
ABAG reitera confiança no futuro
A Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), através do seu presidente Luiz Carlos Corrêa Carvalho, emitiu a seguinte nota de crédito no governo de Michel Temer:
“Com a decisiva participação dos brasileiros, que foram às ruas pedir respeito com a gestão dos recursos públicos, o Brasil venceu uma etapa importante de sua trajetória e dá um grande passo na direção de solucionar a mais séria crise política, econômica e moral de sua história. Vale ressaltar ainda que a etapa foi ultrapassada obedecendo rigorosamente todos os preceitos determinados pelas instituições, de forma democrática e transparente”.
E prossegue: “Nesse sentido, estamos confiantes que, com determinação, coragem e senso de respeito constante aos ditames das leis e da Constituição, retomaremos os rumos corretos em direção ao crescimento econômico, preservando a harmonia social e política”.
Diz ainda que “para o agronegócio, a volta da confiança se dará com a inclusão do setor entre as prioridades do governo, com o retorno ao investimento e a produção na dimensão que o Brasil necessita”.
“Comprometemos a continuar acreditando, investindo e produzindo para colaborar com o desenvolvimento pleno da sociedade brasileira, como, aliás, sempre fizemos”, assinala a mensagem.
E, finalmente, reitera “o pedido para que nos mantenhamos unidos em torno da superação das dificuldades. E estamos certos de que temos condições de mudar a atual realidade, com esperança e senso de justiça, marcas inerentes ao povo brasileiro”, conclui a nota da ABAG, uma das representantes dos empresários ligadas ao agronegócio.
Crise é de confiança, diz senador goiano
A crise política e econômica preocupa o senador goiano Wilder Morais (PP), um dos aliados do novo governo de Michel Temer e que o visitou em sua fazenda em Nerópolis, em seu aniversário. Na visão de empresário e parlamentar, vinculado ao Fórum Empresarial de Goiás, entende que a “crise é de confiança e de representatividade”. Numa alusão ao governo anterior, presidido por Dilma Rousseff, ele mostra convencido de que seu governo foi arruinado por esses fatores que motivaram a fuga dos investidores. “Mesclado, naturalmente, com a mentira e os descaminhos”, observa.
“Com isso, a economia brasileira paga um alto preço e agoniza, pede socorro”, diz para ressaltar que o empresariado resiste como pode. “E o trabalhador sobrevive perdendo o poder de compra e até o emprego”, acrescenta. Wilder Morais não tem dúvida de que os “brasileiros continuam de pé, graças à sua própria luta”. Ele faz severas críticas, ainda, a carga tributária do Brasil, considerada a maior do mundo, e a volta da inflação, que corrói a renda do assalariado.
“O emprego é o melhor programa social. E o empreendedorismo é o melhor projeto para a mudança de vida”, acredita o senador goiano ao delinear novos caminhos aos trabalhadores brasileiros. E arremata: “Não há nada mais indigno e humilhante para uma pessoa do que não conseguir sustentar sua família”.
Cenário de desconfiança
Wilder acredita que com uma nova administração, a partir do impeachment, “renasça as esperanças e o Brasil torne-se mais seguro para os investimentos nacionais e internacionais”. Na gestão petista, a agência de classificação de risco Fitchre baixou a nota do Brasil e tirou o grau de investimento do País recentemente.
“Isto afugenta o capital estrangeiro no Brasil”, reforça o senador pepista, propondo ao presidente em exercício “o diálogo com todas as correntes políticas”. Wilder entende que cabe ao Congresso Nacional, nesta hora difícil, promover as reformas política, tributária, fiscal, trabalhista e de um novo pacto federativo. “A sociedade foi às ruas nas diferentes cidades brasileiras para clamar por mudanças e cabe a nós parlamentares o atendimento desse clamor popular”, observa.
Em sua opinião, o momento composta iniciativa moderna, como a terceirização e as organizações sociais. “Distante da mentalidade retrógrada, dos ranços de esquerda, mas premiando o mérito”, diz numa alusão ao governo de tendência ideológica.
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